Latoaria

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Rui Teixeira é o último representante de uma das mais nobres atividades artesanais da povoação de Boassas e uma das poucas ainda existentes - a latoaria. Não vão ainda muito longe os tempos em que na povoação eram mais de uma dúzia os latoeiros e funileiros em atividade. Recordo-me ainda de, em miúdo, no regresso da escola, passar no “Casal” e invariavelmente, parar na oficina do Sr. Constantino “fulineiro”, a observar espantado a destreza com que manejava, em as mãos calejadas, o compasso, a tesoura, o maço, a bigorna, a folha de Flandres, o estranho ferro de soldar que fazia a solda prateada e sólida derreter, e ainda todos aqueles utensílios que serviam para que, em poucos minutos, como que por magia, um amontoado disforme de chapas metálicas, se transformasse num belo e útil regador, numa luminosa candeia ou numa esbelta almotolia. (...)
Apesar de todas as contrariedades o Sr. Rui Teixeira não esmorece e atualmente é um dos grandes divulgadores do nome de Boassas e do concelho de Cinfães noutras regiões do país, nomeadamente através de algumas célebres feiras de artesanato onde vai participando, como a de Vila do Conde, tendo já sido distinguido em exposições e mostras de artesanato. Invariavelmente está também presente em feiras como as de Cinfães, Baião e Marco de Canavezes, mas é o seu trabalho, as suas graciosas e autênticas peças de artesanato genuíno que são a sua maior bandeira, a sua marca pessoal que projeta o seu nome e divulga a sua qualidade de artesão. A arte de Rui Teixeira foi já, também, alvo de interesse e estudo em publicações ligadas à etnografia.
Numa dessas recentes publicações faz-se menção da necessidade imperiosa de haver “um olhar diferente sobre o artesanato e as artes tradicionais na região, com criação de postos de venda e estímulos à produção...”. [1] Mesmo assim, apesar destes apelos quase desesperados, últimas diligências e esforços para que as artes tradicionais sobrevivam à globalização e massificação, tudo continua por fazer e, desta forma, um dia, o cantar do martelo sobre a bigorna vai-se calar definitivamente, empobrecendo irremediavelmente a sinfonia pastoral das artes e tradições da região, que um poder autárquico (e não só) insensível e inculto não sabe ou não quer preservar.

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